Subitamente o órgão começa a tocar a marcha nupcial e as duas grandes portas se abrem. O zunzum cessa, o público que lota a igreja se levanta e volta-se para trás, curioso. Com que aparência, como estará arranjada a noiva? É a curiosidade geral. Ela aparece. Busca conter a emoção. Em sua despretensão jamais imaginou o impacto de estar de tal maneira em relevo. Uma toilette de refinado bom gosto, equilibrada e nobre, ilumina sua expressão fisionômica, dando-lhe uma aparência de porcelana. O todo emoldura um olhar que reflete maravilhosamente sua modéstia, sua educação esmerada, seu perfil moral de virgem católica. O finíssimo e majestoso vestido, cuja alvura simboliza e glorifica sua intacta pureza, obedece a um modelo recatado e digno. Embala um conjunto de virtudes espirituais em possante desabrochar, faz dela naquele momento uma rainha, ainda quando sua condição social não seja nobre. Está compenetrada de que vai assumir publicamente um compromisso de fidelidade heróica, que nem a ameaça de morte a levará a romper. Consciente de que ao sair da igreja estará indissoluvelmente ligada ao seu esposo, e que, na presença de Deus, acabou de constituir uma nova família, da qual Deus também fará parte. Ela sabe que, dos filhos que vierem, os pais só formam o corpo; é Deus quem cria a alma — espiritual e imortal — de cada filho e a infunde no próprio ato da concepção. Assim, é no claustro materno que isso se realiza. Neste sentido, na esposa legítima e fiel, esse claustro constitui um verdadeiro lugar sagrado. Por isso, ela quer seriamente dar esse passo para ter os filhos que Deus quiser lhe enviar, e considera uma honra cada vez que Deus assim o determine. Por seu lado, o noivo compartilha dos mesmos princípios e sentimentos. O sacerdote formaliza a cerimônia, certo de que está nascendo uma família sólida, durável, cheia de fidelidade e honra. Evidentemente estou descrevendo um casamento antigo, e bem antigo! Quem pode negar a maravilha de autenticidade, de elevação e de bênçãos que cobriam uma cerimônia nupcial de então? A soma de tudo isso, sim, tornava proporcional que todos homenageassem o casal, usando trajes bonitos e manifestativos das mesmas características de virtude. Que a igreja estivesse ricamente engalanada, que os melhores músicos tocassem e os melhores corais cantassem, que o automóvel fosse especialmente solene, que houvesse um belo e apetitoso banquete etc. Afinal algo de imensamente grande estava acontecendo: estava nascendo uma família católica! Estava nascendo uma família que era um alicerce firme da sociedade brasileira, uma garantia de futuro para a nação, cujos membros multiplicariam os bons exemplos morais, religiosos e de atuação profissional. Contudo as coisas já não são mais assim, infelizmente... Chegamos a um estado de coisas em que os casamentos em sua grande maioria são efêmeros, rompem-se com a maior facilidade. Virou moda as mulheres serem comunitárias e descartáveis, como também os homens. Estamos presenciando o fim da fidelidade, da honra e, portanto, do verdadeiro amor. Entende-se agora por amor uma paixão de novela que se apaga como quem apaga uma chama de fogão. Graças a programas de TV, às modas desqualificadas, aos cafajestismos que se transformam em normas de vida, busca-se amor onde não há valores autênticos; na escassez dos filhos, animais substituem pessoas, o convívio familiar está virando coisa rara. O mundo moderno praticamente matou a família. Esta é a real explicação para fatos como o inominável assassinato de alunos ocorrido em Realengo, no Rio de Janeiro. Nossa sociedade engendra pessoas assim. Esta é a triste realidade. Poucos atingirão esse extremo, mas um número crescente está a caminho, e alguns acabarão chegando até lá. Para quem vê a realidade sob este prisma, causa indignação aparecerem propostas de soluções hipócritas como tirar as armas das pessoas de bem, para que não ocorram mais assassinatos. Tão hipócrita quanto pretender acabar com a AIDS propagando o uso dos preservativos, que propiciam a infidelidade e a fornicação. É preciso mudar as pessoas, mudar seu comportamento; em uma palavra, é preciso conversão a Deus. Que coerência há em chorar a morte dessas crianças e, por exemplo, ser favorável ao aborto, ele mesmo um assassinato? Regenere-se a família católica, prestigie-se a virtude, formem-se sacerdotes dignos de sua missão, promova-se o verdadeiro amor de Deus e a observância de seus Mandamentos, que esses males se resolverão. Enquanto isso não for feito, casos como o do Realengo serão inevitáveis. |
Praça São Salvador de Campos dos Goytacazes, há 50 anos. O Rio Paraíba ao fundo, à esquerda, ainda de pé a Igreja Mãe dos Homens e a Santa Casa de Misericórdia.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
REALENGO TEM SOLUCÃO
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